segunda-feira, 1 de março de 2010

8º Relatório do GESTAR II

Aos treze dias do mês de novembro de 2009, no Centro Profissionalizante realizamos a Oficina 7 – Unidade 14 – TP4 cujo objetivo foi: 1- Sistematizar e aprofundar as reflexões sobre letramento e sobre o processo de leitura; 2 – Desenvolver a leitura e a prática dos cursistas com relação ao trabalho com textos.
Iniciamos às 14 horas com as boas vindas e entregando um bombom com os seguintes trechos da TP4, Unidades 13 e 14:
... apropriar-se de uma tradição de leitura e escrita, supõe assumir uma herança cultural, que envolve o exercício de diversas operações com os textos e a colocação em ação de conhecimentos sobre as relações entre os textos; entre eles e seus autores; entre os próprios autores; entre os autores, os textos e seu contexto...
Délia Lerner
O processo da leitura pode ser considerado uma sequência de perguntas/hipóteses que o leitor faz (mesmo inconscientemente) em torno do texto, Por isso mesmo, nossas perguntas devem ajudar nosso aluno a avançar na formulação de suas próprias perguntas, caminhando para uma leitura autônoma. Daí a importância de se trabalhar com perguntas formuladas pelos próprios alunos. Da mesma forma, é importante pensarmos que o trabalho com o texto pode ser muito mais produtivo quando é uma atividade compartilhada.
TP4 página 125
O plano de criação do texto, consciente ou inconscientemente estabelecido pelo autor, evidencia-se numa estrutura, reveladora de seu pensamento. Por isso, estabelecer a estrutura do texto lido é um dos melhores caminhos para se chegar a seu significado global, independentemente do gênero e da extensão dele. Daí a importância de você investir em atividades que ajudem seu aluno a desenvolver essa habilidade.
TP4 página 134
Na perspectiva do letramento, fatores como as práticas de leitura e escrita da comunidade e da família influenciam o desenvolvimento da escrita e a escola tem que construir uma ponte entre a sua prática e aquelas da comunidade, dando chance a todos de praticarem a escrita de acordo com as funções que exercem na sociedade para que todos possam tornar-se adultos participativos, criativos e críticos.
TP4 página 173

Em seguida solicitei ao professor cursista Walter Santiago para fazer a leitura do texto: “ABC de um solteiro” de Silvio Romero. Após a leitura pedi que cada professor lesse a frase que continha em seu bombom e que tecesse comentários e reflexões. Segundo boa parte dos cursistas foi bastante valiosa essa dinâmica pois possibilitou a retomada dos conteúdos e conceitos trabalhados nas Unidades 13 e 14 da TP4, o que reforçou com certeza a compreensão dos processos de leitura e escrita, bem como, a melhor compreensão do conceito de Letramento ainda não dominado por todos. Os comentários e reflexões foram bastante pertinentes, pois os cursistas entenderam que o processo de Alfabetização e Letramento devem caminhar juntos ou vice versa e que as práticas de Letramento são bastantes presentes na comunidade e estas precisam ser valorizadas dentro do espaço escolar o que segundo aqueles é o local apropriado para a construção e consolidação de conhecimentos e saberes adjacentes do contexto social e cultural em que o aluno está inserido.
Associada a esta discussão, discutimos e respondemos o roteiro de análise do filme “Narradores de Javé” que assistimos no encontro anterior, concluindo o seguinte: 1) O que significa fazer o “papel de escriba?” – Registrar os fatos, poder nas mãos. O que escreve, registra por meio de palavras formadas a partir do alfabeto de seu idioma. O que domina a escrita. 2) Qual é o papel do escriba, naquela comunidade? Ouvir e registrar as histórias do povo daquela cidade que ainda não tinha sido alfabetizada. A pessoa que fazia o registro das histórias contadas pelo povo do Vale de Javé.O papel do escriba naquela comunidade era escrever a história de um povoado perdido no interior brasileiro, que se vê as voltas com a construção de uma usina hidrelétrica em sua região, o que levará à destruição de todo o vale de Javé ameaçando a própria existência da comunidade. 3) Analise os traços de oralidade daquela comunidade. A cultura estava na memória daquela comunidade e no modo de viver e ao personagem Biá cabia o registro dessas memórias. Cada um tinha um modo próprio, pessoal de contar as estórias com criatividade para dar maior veracidade aos fatos e acontecimentos. Percebe-se ali que a oralidade não era simplesmente tradição, era também um traço conjuntural devido a precária situação sócio-econômica dos moradores quase todos analfabetos. Os contadores da estória de Javé se intitulam protagonistas da história. 4) Qual a relação entre oralidade e escrita? Nas sociedades de tradição oral como Javé não há necessidade de memorização integral dos fatos, percebe-se que o comportamento narrativo dos personagens, como papel mnemônico teve a função de atualizar o passado. A escrita temida pelo povo de Javé, altera a relação com as palavras, fixa as idéias, e é como se roubasse o movimento. O fato narrativo como diz o próprio Bia precisa ser melhorado na escrita para dar mais veracidade a estória. A oralidade permite o refazer constante do passado ao passo que o escrito não. 5) Analise as práticas de Letramento e de Alfabetização daquela comunidade. A comunidade não dominava o código escrito, no entanto, tem largo domínio da língua, léxico, vocabulário rico. As práticas sociais da leitura e escrita que circulam naquela comunidade são compreendidas e difundidas pelas personagens do filme. 6) Como você percebe a relação entre ser alfabetizado e ser letrado no contexto do filme? O alfabetizado é aquele que detém o domínio da linguagem estritamente escrita, enquanto que o letramento pressupõe um conjunto de práticas sociais que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito, do código. O letrado em Javé é aquele que tem o poder de libertar/salvar a comunidade da inundação. 7) Em que atividades práticas, no contexto da sala de aula, você exerce o papel de escriba? No momento em que registramos diariamente as ações, os trabalhos, episódios ocorridos durante as aulas. A escrita das histórias quando elaboradas na coletividade pelos alunos, a reescrita de textos na lousa e etc. 8) Qual a importância do escriba na construção da leitura e da escrita? Por meio da escrita ele registra as memórias, histórias, fatos. Colabora na formação dos educandos enquanto leitores e escritores competentes. 9) Qual a função social que a escrita exerce no contexto do filme? Naquela comunidade a escrita tem o poder de salvá-la. Resgatar e registrar a memória do Vale do Javé, a fim de elevar o vilarejo à condição de patrimônio cultural. 10) Quais as relações de poder estabelecidas pelos personagens diante das práticas de escrita? Antônio Bia, personagem que domina a escrita utiliza desse saber para manipular as histórias contadas pelos moradores do vilarejo que não dominam a escrita e para se “safar” de situações das quais se envolve. Ao dominar escrita ele se torna superior em relação aos demais moradores.
O que os cursistas constataram é que as práticas sociais e discursivas são bem marcantes no Vilarejo de Javé e, no entanto, o domínio do código escrito é quase inexistente. Por isso a necessidade de nós educadores respeitarmos a cultura trazida pelo nosso aluno, a fim de que trabalhemos na perspectiva de ajudá-lo a dominar o código escrito e fazer uso competente deste.
Dando continuidade, os professores relataram suas experiências em sala dando ênfase às dificuldades encontradas com relação a escassez de material e recursos tecnológicos para o desenvolvimento de uma aula mais prazerosa, no entanto, disseram que quando desenvolvem atividades do GESTAR há um envolvimento maior dos alunos e o nível de aprendizagem é mais satisfatório.
Alguns cursistas relataram que tem percebido o progresso gradativo dos alunos em relação à melhoria na ortografia e produção depois que começaram a desenvolver as atividades propostas nos Avançando na Prática.
Após o intervalo, dividi em grupos para a realização da atividade com o “Avançando na Prática” das páginas 97,98 e 99 da TP4. Os professores analisaram o poema “Cidadezinha Qualquer” de Carlos Drumond de Andrade em seguida definiram para qual série proporiam a atividade; então responderam a seguinte questão: Pense e escreva as situações e perguntas que você proporia a seus alunos sobre o poema.
O primeiro grupo definiu trabalhar com alunos da 5ª série com os seguintes objetivos: Trabalhar o conhecimento prévio dos alunos; proporcionar momentos de leitura e reflexão, além de explorar sua criatividade na produção escrita de aula: 1 – Apresentar imagens da cidade de Itabira; 2 – Conversar como os alunos sobre o momento histórico em que foi criado o poema e sobre o autor; 3 – Leitura do poema em voz alta pelo professor; 4 – Permitir que os alunos opinem sobre o poema e relate o que entenderam e sentiram; 5 – Incentivar a turma a interpretar cada estrofe isoladamente; 6 – Leitura de outros textos (poemas) relativos às cidades; 7 – Interrelacionar o poema com a realidade de sua cidade (comunidade); e 8 – Sugerir que escrevam um depoimento sobre a “cidade ideal”. Por fim, o segundo grupo optou pelos alunos da 6ª série e propuseram as seguintes situações: 1 – Fazer a leitura do poema com alunos; 2 – conversar com os alunos sobre o entendimento de cada um e o que sentiram; 3 – Ler outros textos com a mesma temática; 4 – Fazer a interrelação entre um texto e outro; 5 – Buscar rememorar a cidade em que moram, como era e como é hoje, através de entrevistas com pessoas mais antigas da cidade; 6 – Fazer ilustrações da cidade antiga e atual; 7 – Produzir texto falando sobre as mudanças ocorridas e 8 – Organizar painel com fotos ilustrativas e poemas sobre a cidade.
Refletimos que o poema de Carlos Drumond de Andrade possibilita uma vasta possibilidade de trabalho em sala, uma vez que a cada leitura e análise descobrimos a sua densidade poética e uma série de elementos e aspectos gramaticais que podem ser explorados. O poema é tão pequeno, mas a sua dimensão poética vai além de nossas possibilidades interpretativas e com certeza trabalhá-lo com os alunos será muito mais enriquecedor.
A oficina foi avaliada como positiva, a dinâmica inicial possibilitou a retomada das Unidades que segundo os professores, foram trabalhadas de forma superficial. Foi proveitoso porque facilitou a compreensão dos conteúdos propostos, bem como a compreensão e distinção entre alfabetização e letramento, foi sugerido que nos próximos encontros se realize a mesma dinâmica.
Para finalizar indaguei sobre o que seria “Mergulhar no Texto?” Obtive as seguintes respostas:
- Análise profunda;
- Enxergar o maior número possível de facetas do texto;
- Releitura do texto;
- Compreender profundamente o texto;
- Ser um personagem do texto;
- Banhar no texto.
OBS: Vale ressaltar que “Mergulho no texto” é o conteúdo da Unidade 15 da TP4.

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